Folha de S. Paulo – Pacientes que nunca se acostumaram ao barulho do “motorzinho” quando vão ao dentista estão começando a contar com uma nova opção no país: lasers que fazem parte do serviço das brocas.

A tecnologia, conhecida como laser Er:YAG, tem mostrado bons resultados no tratamento de cáries, por exemplo, mas ainda não substitui aparelhos convencionais em vários procedimentos, afirmam especialistas.

Em si, o uso de lasers em tratamentos odontológicos não é novidade –em 1992, chegava ao país o primeiro modelo de aparelho para esse fim. Entretanto, a tecnologia não pegou, e quase todos os profissionais mantiveram o uso das incômodas brocas.

A causa do fracasso do laser, segundo odontologistas, deveu-se ao fato de a antiga ferramenta ser lenta e menos precisa, porque sua potência era relativamente baixa.

Já os novos modelos funcionam em alta potência, proporcionando mais precisão em tratamentos como remoção de cáries, tártaro e placa bacteriana, diz o odontologista Gil Puglisi, que tem o Er:YAG há um ano e meio.

Para Rodrigo Bueno de Moraes, consultor da ABO (Associação Brasileira de Odontologia), as versões mais recentes do laser trazem vantagens consideráveis. Mas ele alerta: “O aparelho ainda precisa de aprimoramento”.

Os defensores da tecnologia argumentam que, do ponto de vista do paciente, o conforto e a ausência da dor acabam pesando em favor do laser. “Em 85% dos casos, o paciente não precisa de anestesia”, afirma Puglisi.

NOBOLSO
Como o laser custa cerca de US$ 70 mil, ainda há pouca demanda por ele entre os dentistas –ainda é considerado um aparelho “elitista”, de acordo com Moraes. Segundo Puglisi, uma obturação sai por R$ 700.

O laser funciona por meio da combinação de seu feixe com um jato de água. Ele causa um aquecimento rápido e superficial na parte mineralizada do dente e faz a água virar vapor, criando microexplosões que removem o tecido com lesões.

De acordo com Ângela Toshie Araki, pesquisadora da USP que estuda a ação do Er:YAG, em determinados casos ainda é necessário o uso da broca, pois o laser não consegue fazer todo os tipos de tratamentos dentários.

Por isso, para a professora, o laser ainda é considerado “coadjuvante”. Em tratamentos de canal, por exemplo, ele não consegue fazer o trabalho. Entretanto, “reduz o número de bactérias em 99%” para que, em seguida, a broca seja utilizada. Segundo Araki, há chances de que o uso do laser se torne mais amplo no futuro.

O aposentado Norival Ianoni, 71, diz que o uso da tecnologia o ajudou a vencer o medo de dentista –é que, após uma injeção traumatizante quando criança, Ianoni se tornou um daqueles pacientes aterrorizados com o tratamento dentário.

“Eu tenho pavor, deito na cadeira e começo a tremer”, explica. Recém-adepto do Er:YAG, o aposentado afirma que agora vai tranquilo ao consultório. Seu tratamento ainda vai durar dois meses.

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